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10 junho 2020

Olinda e o Bar Ecológico

Pouco tempo antes de escrever o texto intitulado "Há 40 anos...", recebi um link da minha amiga Dida Cavalcanti, no Whatsapp

Um link para um vídeo que achei ótimo e ilustra bem Olinda há pouco mais de 40 anos. 

Sei que tem uma porrada de gente que conheci na época. Pessoas que até hoje quando nos encontramos fazemos festa uns com os outros e as inevitáveis lembranças.

Era um tempo em que se bebia muito, se fumava muito e se transava muito. O tempo em que "Lavou, tá novo!"

Há, também, um outro texto, em que trato de Carnavais e eleições em 1970-80.

O vídeo é dirigido por Gabriel Çarungaua e o tema é o BAR ECOLÓGICO, em Olinda.

Talvez fique só o endereço do vídeo:

https://vimeo.com/396839205/253a501d64


25 abril 2020

Carnavais e eleições em Olinda (Anos 1970-80)




Quando cheguei para morar em Olinda com minha mãe e meus irmãos, em 12 de fevereiro de 1971, eu ia fazer 12 anos dali a um mês. O prefeito era Ubiratan de Castro, que havia sido eleito para um mandato tampão, pois o prefeito eleito em 1969, Marcos Freire, renunciara ao cargo.
Chegamos em plena semana pré-carnavalesca. Logo depois da arrumação da casa, eu fui pra casa da minha avó, na Conde da Boa Vista, no Recife, pois havia o Corso, com mela-mela e banhos de água. (Foi o último Corso do Recife!). Em Olinda não tinha Corso.
Durante o Carnaval propriamente dito, eu já havia voltado pra casa e acompanhei os desfiles de Pitombeira dos Quatro Cantos e de Elefante de Olinda. Fiquei apaixonado pelo segundo. 
Em Olinda, havia o QG do Frevo, na Avenida Sigismundo Gonçalves, em frente ao Colégio de São Bento/Praça do Jacaré (Praça Barão do Rio Branco).
A próxima eleição para prefeito foi em 1972 e foram candidatos pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), Roberto Freire e pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA, partido que dava sustentação ao governo militar) concorreu com três sublegendas: Aredo Sodré da Mota (ARENA 1), o ex-prefeito Benjamin de Aguiar Machado (ARENA 2) e o professor de Língua Portuguesa e autor de livro didático, José Brasileiro Vilanova (ARENA 3). Entre os candidatos a vereador daquela época, eu gostava muito de João de Lima Neto. Ficava fascinado pelo seu discurso contra o governo militar. Nessa época, eu contava 13 anos. Foi eleito Aredo Sodré da Mota.
Nas eleições municipais de 1976, concorreram, pelo MDB, o professor universitário Germano de Vasconcelos Coelho e pela ARENA, dois candidatos em sublegendas: o deputado Nivaldo Machado e o professor José Brasileiro Vilanova. Foi eleito Germano Coelho e fez uma “revolução” nesta cidade.
Eu ainda não podia votar, pois tinha 17 anos. (Nessa época, o cidadão era OBRIGADO a votar depois que completasse 18 anos). Germano começou com uma campanha para cobrar do governo da Holanda uma “indenização” pelo incêndio sofrido em 1630, remexeu completamente no Carnaval da cidade. Foi Germano quem começou com essa “fome” por Olinda no Carnaval, pois incentivou os artistas da cidade a decorarem as ruas do Sítio Histórico para a grande festa de 1978.
Também foi no seu governo que Olinda conquistou o título de Cidade Patrimônio Nacional, em 1980, concedido pelo Congresso Nacional e, em 1982, o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Ciência, Cultura e Educação (UNESCO).
Nessa época, o prefeito eleito em 15 de novembro 1976, assumia a Prefeitura em 15 de março de 1977, portanto, depois do Carnaval.
O Carnaval de 1977 correu normal, como os anteriores, sendo mais diurna a festa maior da minha cidade.
O Carnaval de Olinda morria no final da tarde, pois o quente, nas noites de Carnaval daquela época, eram os bailes de clubes. Nos clubes havia as prévias: no Clube Português do Recife, se brincava o Baile Municipal do Recife, o Baile da Saudade… No Clube Internacional do Recife, havia o Bal Masqué. No Baile Municipal e no Bal-Masqué havia concursos de fantasias e havia uma grande torcida pelos concorrentes: Múcio Catão, Jésus Henrique, Diva Pacheco, João Andrade, entre outros.
Os clubes do Recife realizavam bailes de Carnaval noturnos, mas haviam os bailes mais “licenciosos”, como as Manhãs de Sol do Sport Clube do Recife e o Baile dos Casados, no Atlético Clube de Amadores.
Nunca fui a nenhum desses dois bailes, mas, lenda urbana ou não, a criatividade das notícias sobre esses dois bailes eram lendárias e excitantes. Confesso que era engraçado ouvir as mulheres, com muita raiva e ciúmes, porque seus maridos/noivos/namorados haviam ido à Manhã de Sol do Sport, e/ou ao Baile dos Casados do Atlético.
Até completar 14 anos, eu não podia frequentar os bailes noturnos de Carnaval, só podia ir às matinês e manhãs de sol (não no Sport, pois era proibida para menores!).
Quando completei 14 anos, mamãe se associou e nos associou todos ao Clube Português do Recife, pois era o único que tinha uma categoria de sócios que dispensava o pagamento de “joia”, que era uma taxa cobrada para se associar aos clubes.
O Clube Português do Recife criou uma categoria de sócios que era “contribuinte”. Pagava-se uma mensalidade que cabia no orçamento das pessoas de menos posses. Esses sócios tinham o direito de frequentar aulas de natação, a piscina, as festas e os bailes noturnos de Carnaval.
Lá em casa, quem completasse 14 anos, já podia ir ao baile noturno com mamãe. As irmãs de minha mãe também se associaram e todos nós íamos (tias, primos...). Brinquei nos bailes noturnos de 1974 a 1979. Em 1980, começou a ter, em Olinda, o Carnaval não só diurno, mas também noturno, pois a Prefeitura contratou conjuntos (bandas) locais pra animar o Carnaval noturno na Praça de São Pedro, Praça do Carmo e Praça da Preguiça (Abolição).
Em 1981, os bailes noturnos de Carnaval deram prejuízos aos clubes, pois todo mundo veio pra Olinda brincar o melhor Carnaval de rua. Em 1982, não houve mais bailes noturnos nos clubes do Recife, ficando só os bailes já tradicionais.

17 abril 2020

Há 40 anos...


Tenho um orgulho da gota serena de participar deste Fórum LGBT de Pernambuco!
E pensar que há 40 anos surgiu um grupo de pessoas, do qual fiz parte, que resolveu responder aos jornais de Pernambuco pelo fato de tratarem assassinos e espancadores de pessoas que tinham como objeto de desejo pessoas do mesmo gênero como heróis da sociedade. Afinal, “frango tem mais é que apanhar pra ser homem, ou morrer, pra livrar a sociedade dessa mancha!”
A mídia da época nos tratava com chacota: “Era só o que faltava: Sindicato das bichas!” (Diário da Noite, 14/08/1980)

Nesses 40 anos avançamos muito: embora ainda existam assassinos lgbtfóbicos, a mídia não mais os trata como heróis, mas como o que são verdadeiramente: assassinos. Pessoas que espancam lésbicas, gays, travestis e transexuais também não são mais considerados heróis, mas covardes criminosos de ódio.
Há 40 anos, pichávamos as paredes e muros com a frase “Dar o cu é um ato político! Viva 28 de junho!”
Há 40 anos, tínhamos medo de dizermos quem e o quê somos, afinal, podíamos perder o emprego, ser despejados do imóvel em que morávamos.
Não quer dizer que isso não mais acontece hoje em dia, mas temos leis que nos protegem e podemos acionar o poder judiciário diante desses abusos.
Naquela época, se estávamos num barzinho com nossos namorados, éramos expulsos, hoje, vemos casais de meninas e de meninos nos shopping centers da vida e nas ruas de mãos dadas.
No tempo em que “dar o cu era um ato político”, vivíamos morrendo de medo de dizer quem éramos às nossas famílias, aos nossos amigos. Lembro que em 1985, por insistência e patrocínio do saudoso João Antônio Mascarenhas, publicamos no Diário Oficial de Pernambuco o excerto do Estatuto do GATHO. As lideranças mais velhas não assinariam. Coube a um jovem funcionário da Fundação Centro de Preservação dos Sítios Históricos de Olinda, órgão ligado à Prefeitura de Olinda, com 26 anos à época, assinar o bichinho, não sem antes pedir “autorização” ao prefeito, a fim de não ser exonerado. O funcionário era eu, Jackson Cavalcanti Junior.
Por volta dessa mesma época, a Câmara Municipal de Olinda acolheu proposta do vereador Fernando Gondim da Motta de fazer moção de repúdio ao código 302.0 da Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde, que dizia que os homossexuais eram “desviados e transtornados sexuais”. Além de Olinda, foram tantas moções de repúdio tanto de câmaras municipais, como de organizações científicas que o Conselho Federal de Medicina resolveu não mais observar, no Brasil, esse famigerado código. Vale lembrar que a OMS, somente num 17 de maio da década de 1990, deixou de nos considerar oficialmente “desviados e transtornados”.
O que sabemos é que, graças àquela turma do final da década de 1970, e das gerações que se seguiram, hoje em dia até atores e atrizes de telenovelas e até  jornalistas que aparecem todos os dias nas nossas telas de TV já declararam os objetos de seus amores homoafetivos.
A luta foi e é árdua, mas cada vez menos o tal “amor que não ousa dizer o nome” ousa, atreve-se a dizer e não sentir “vergonha” da dor e da delícia de ser o que se é, de dizer o quê e quem somos. Viva nós!
Sigamos lutando, até que tenhamos conquistado nossa liberdade e que não precisemos mais da Parada da Diversidade para afirmar a nossa disposição de lutar por nossos direitos fundamentais: o direito inalienável de ser quem e o quê somos, sem termos nossos corpos vilipendiados somente pelo fato de sermos seres humanos que amamos pessoas, independentemente de gênero, raça, cor, orientação sexual, origem....