Pouco tempo antes de escrever o texto intitulado "Há 40 anos...", recebi um link da minha amiga Dida Cavalcanti, no Whatsapp.
Um link para um vídeo que achei ótimo e ilustra bem Olinda há pouco mais de 40 anos.
Sei que tem uma porrada de gente que conheci na época. Pessoas que até hoje quando nos encontramos fazemos festa uns com os outros e as inevitáveis lembranças.
Era um tempo em que se bebia muito, se fumava muito e se transava muito. O tempo em que "Lavou, tá novo!"
Há, também, um outro texto, em que trato de Carnavais e eleições em 1970-80.
O vídeo é dirigido por Gabriel Çarungaua e o tema é o BAR ECOLÓGICO, em Olinda.
Talvez fique só o endereço do vídeo:
https://vimeo.com/396839205/253a501d64
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10 junho 2020
25 abril 2020
Carnavais e eleições em Olinda (Anos 1970-80)
Quando cheguei para
morar em Olinda com minha mãe e meus irmãos, em 12 de fevereiro de
1971, eu ia fazer 12 anos dali
a um mês. O prefeito era
Ubiratan de Castro, que havia sido eleito para
um mandato tampão, pois o prefeito eleito em 1969, Marcos
Freire, renunciara
ao cargo.
Chegamos
em plena semana pré-carnavalesca. Logo depois da arrumação da
casa, eu fui pra casa da minha avó, na Conde da Boa Vista, no
Recife,
pois havia o Corso, com mela-mela e banhos de água. (Foi o último
Corso do Recife!). Em
Olinda não tinha Corso.
Durante
o Carnaval propriamente dito, eu já havia voltado pra casa e
acompanhei os desfiles de Pitombeira dos Quatro Cantos e de Elefante
de Olinda. Fiquei apaixonado pelo segundo.
Em
Olinda, havia o QG do Frevo, na Avenida Sigismundo Gonçalves, em
frente ao Colégio de São Bento/Praça do Jacaré (Praça Barão do
Rio Branco).
A próxima eleição para prefeito foi
em 1972 e foram candidatos pelo Movimento
Democrático
Brasileiro
(MDB), Roberto Freire e pela
Aliança
Renovadora
Nacional
(ARENA, partido
que dava sustentação ao governo militar) concorreu com três
sublegendas: Aredo Sodré da Mota (ARENA 1), o ex-prefeito Benjamin de Aguiar Machado (ARENA 2) e o professor de Língua
Portuguesa
e
autor de livro didático,
José Brasileiro Vilanova (ARENA 3). Entre
os candidatos a vereador
daquela época, eu gostava
muito de João de Lima Neto. Ficava fascinado pelo seu
discurso contra o governo militar. Nessa época, eu contava
13 anos. Foi eleito Aredo Sodré da
Mota.
Nas eleições municipais de 1976,
concorreram, pelo MDB, o professor universitário
Germano de Vasconcelos
Coelho e pela ARENA, dois candidatos em
sublegendas: o
deputado Nivaldo Machado
e o
professor José Brasileiro Vilanova.
Foi eleito Germano Coelho e fez uma “revolução” nesta cidade.
Eu ainda não podia votar, pois
tinha 17 anos. (Nessa época, o cidadão era OBRIGADO a votar depois
que completasse 18 anos). Germano começou com uma campanha para
cobrar do governo da Holanda uma “indenização” pelo incêndio
sofrido em 1630, remexeu completamente no Carnaval da cidade. Foi
Germano quem começou com essa “fome” por Olinda no Carnaval,
pois incentivou os artistas da
cidade a decorarem as ruas do Sítio Histórico para a grande festa de 1978.
Também foi no seu governo que
Olinda conquistou o título de Cidade Patrimônio Nacional, em 1980,
concedido pelo Congresso Nacional e, em 1982, o título de Patrimônio
Cultural da Humanidade, concedido pela Organização das Nações
Unidas para a Ciência, Cultura e Educação (UNESCO).
Nessa época, o prefeito eleito em 15
de novembro 1976, assumia a Prefeitura em 15 de março de 1977,
portanto, depois do Carnaval.
O Carnaval de 1977 correu normal, como
os anteriores, sendo mais diurna a festa maior da minha cidade.
O Carnaval de Olinda morria no final
da tarde, pois o quente, nas
noites de Carnaval daquela
época, eram os bailes de clubes. Nos clubes havia as prévias: no
Clube Português do Recife, se brincava o Baile Municipal do Recife,
o Baile da Saudade… No Clube Internacional do Recife, havia
o Bal Masqué. No Baile
Municipal e no Bal-Masqué
havia concursos de fantasias e havia uma grande torcida pelos
concorrentes: Múcio Catão, Jésus Henrique, Diva Pacheco, João
Andrade, entre outros.
Os clubes
do Recife realizavam bailes de Carnaval noturnos, mas haviam os
bailes mais “licenciosos”, como as Manhãs de Sol do Sport Clube
do Recife e o Baile dos
Casados, no Atlético Clube de Amadores.
Nunca fui a nenhum desses
dois bailes, mas, lenda urbana ou não, a criatividade das notícias
sobre
esses dois bailes eram
lendárias e excitantes.
Confesso que era engraçado
ouvir as mulheres,
com muita raiva e ciúmes,
porque seus maridos/noivos/namorados
haviam ido à Manhã de Sol do
Sport, e/ou ao Baile dos
Casados do Atlético.
Até completar 14 anos, eu não podia
frequentar os bailes noturnos de Carnaval, só podia ir às matinês
e manhãs de sol (não no Sport, pois era proibida para menores!).
Quando completei 14 anos, mamãe se
associou e nos associou todos ao Clube Português do Recife, pois era
o único que tinha uma categoria de sócios que dispensava o
pagamento de “joia”, que era uma taxa cobrada para se associar
aos clubes.
O Clube Português do Recife criou uma
categoria de sócios que era “contribuinte”. Pagava-se uma
mensalidade que cabia no orçamento das pessoas de menos posses.
Esses sócios tinham o direito de frequentar aulas de natação, a
piscina, as festas e os bailes noturnos de Carnaval.
Lá em casa, quem completasse 14
anos, já podia ir ao baile
noturno com mamãe. As irmãs de minha mãe também se associaram e todos nós íamos (tias, primos...). Brinquei nos bailes
noturnos de 1974 a 1979. Em 1980, começou a ter, em Olinda, o
Carnaval não só diurno, mas também noturno, pois a Prefeitura
contratou conjuntos (bandas) locais pra animar o Carnaval noturno na
Praça de São Pedro, Praça do Carmo e Praça da Preguiça
(Abolição).
Em 1981, os bailes noturnos de
Carnaval deram prejuízos aos clubes, pois todo mundo veio pra Olinda
brincar o melhor Carnaval de rua. Em 1982, não houve mais bailes
noturnos nos clubes do Recife, ficando só os bailes já
tradicionais.
17 abril 2020
Há 40 anos...
Tenho um orgulho da gota serena de
participar deste Fórum LGBT de Pernambuco!
E pensar que há 40 anos surgiu um
grupo de pessoas, do qual fiz parte, que resolveu responder aos
jornais de Pernambuco pelo fato de tratarem assassinos e espancadores
de pessoas que tinham como objeto de desejo pessoas do mesmo gênero
como heróis da sociedade. Afinal, “frango tem mais é que apanhar
pra ser homem, ou morrer, pra livrar a sociedade dessa mancha!”
A mídia da época nos tratava com
chacota: “Era só o que faltava: Sindicato das bichas!” (Diário
da Noite, 14/08/1980)
Nesses 40 anos avançamos muito:
embora ainda existam assassinos lgbtfóbicos, a mídia não mais os
trata como heróis, mas como o que são verdadeiramente: assassinos.
Pessoas que espancam lésbicas, gays, travestis e transexuais também
não são mais considerados heróis, mas
covardes criminosos de ódio.
Há 40 anos, pichávamos as paredes e
muros com a frase “Dar o cu é um ato político! Viva 28 de junho!”
Há 40 anos, tínhamos medo de
dizermos quem e o quê somos, afinal, podíamos perder o emprego, ser
despejados do imóvel em que morávamos.
Não quer dizer que isso não mais
acontece hoje em dia, mas temos leis que nos protegem e podemos
acionar o poder judiciário diante desses abusos.
Naquela época, se estávamos num
barzinho com nossos namorados, éramos expulsos, hoje, vemos casais
de meninas e de meninos nos shopping centers da vida e nas ruas de
mãos dadas.
No tempo em que
“dar o cu era um ato
político”, vivíamos morrendo de medo de dizer quem éramos às
nossas famílias, aos nossos amigos. Lembro que em 1985, por
insistência e patrocínio do saudoso João Antônio Mascarenhas,
publicamos no Diário Oficial de Pernambuco o excerto do
Estatuto do GATHO. As lideranças mais velhas não assinariam. Coube
a um jovem funcionário da Fundação Centro de Preservação dos
Sítios Históricos de Olinda, órgão ligado à Prefeitura de
Olinda, com 26 anos à época, assinar o bichinho, não sem antes
pedir “autorização” ao prefeito, a fim de não ser exonerado. O
funcionário era eu, Jackson Cavalcanti Junior.
Por volta dessa mesma época, a Câmara
Municipal de Olinda acolheu proposta do vereador Fernando Gondim da
Motta de fazer moção de repúdio ao código 302.0 da Classificação
Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde, que
dizia que os homossexuais eram “desviados e transtornados sexuais”.
Além de Olinda, foram tantas moções de repúdio tanto de câmaras
municipais, como de organizações científicas que o Conselho
Federal de Medicina resolveu não mais observar, no Brasil, esse
famigerado código. Vale
lembrar que a OMS, somente num 17 de maio da década de 1990, deixou de
nos considerar oficialmente “desviados e transtornados”.
O que
sabemos é que, graças àquela turma do final da década de 1970, e
das gerações que se seguiram, hoje em dia até atores e atrizes de
telenovelas e até
jornalistas que aparecem todos os dias nas nossas telas de TV já
declararam os objetos de seus amores homoafetivos.
A luta foi e é árdua, mas cada vez
menos o tal “amor que não ousa dizer o nome” ousa, atreve-se a
dizer e não sentir “vergonha” da dor e da delícia de ser o que se é, de dizer o quê
e quem somos. Viva nós!
Sigamos lutando, até que tenhamos
conquistado nossa liberdade e que não precisemos mais da Parada da
Diversidade para afirmar a nossa disposição de lutar por nossos
direitos fundamentais: o direito inalienável de ser quem e o quê
somos, sem termos nossos corpos vilipendiados somente pelo fato de
sermos seres humanos que amamos pessoas, independentemente de gênero,
raça, cor, orientação sexual, origem....
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