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24 julho 2025

Parada da Diversidade de Pernambuco - 17.set.2023

Esta Parada, pra mim, foi marcante: primeiro porque, desde que eu participo do Fórum e que fico na Portaria do palco, pela primeira vez, meu companheiro Ivanildo foi, com minha irmã Kathleen.
Depois, fui pro trio do Coletivo de Lésbicas, mas como ultimamente fico com o estômago meio embrulhado com outras cervejas que não seja Heineken (que bicha velha mais metida! Só quer ser as "pregas de Odete!"), desci pra comprar uma lata pra mim, nisso, findei sendo chamado por Anderson, do Ser Coletivo. Irene Freira fez uma fala nesse trio, aí, eu fui descer novamente pra pegar outra latinha de cerveja. Eu e Irene descemos juntos e ela me chamou pro trio do Bloco da Diversidade.
Músicas de carnaval, o que me atiçou a verve de folião. Depois, a presidenta da UNE fez um discurso que me emocionou a ponto de chorar! Lembrei do início do GATHO, quando a gente começava a brigar pra ter o direito de viver livremente, amando, sentindo prazer. Cobrando o devido respeito da sociedade.
E como agradeci à vida por ver, ouvir, viver esse momento do discurso da líder estudantil (eu também fiz movimento estudantil.) E lembrar da luta inclusive contra o discurso da esquerda tradicional, que nos rotulava de “decadência do capitalismo”
E eu, aqui, tendo testemunhado tudo isso, me emocionei com o discurso da "Universidade Fora do Armário"!.
Agradeço a todo mundo que estava junto conosco hoje.
Parabéns pra nós! Esperando estar bem no próximo ano pra poder mais uma vez participar da Parada da Diversidade!
Muito obrigado, pessoas queridas do Fórum LGBT de Pernambuco!
Para o ano tem mais! E já tem data: 15 de setembro de 2024!

21 julho 2025

Faz 50 Anos que Tapacurá (não) Estourou

 Gostaria de ter postado antes, mas comecei a escrever e editar. Findei só conseguindo fazer agora.

16 de julho de 1975, quarta-feira.

Procissão de Nossa Senhora do Carmo, padroeira do Recife. Tia Glaura foi acompanhar a procissão, como sempre.

Durante a procissão:

– Minha filha, vai acontecer uma desgraça. – Disse uma senhora a minha tia.

– Oxente, minha senhora, o que vai acontecer? Por que a senhora está dizendo isso? –indagou minha tia.

– Esqueceram de botar a coroa na imagem da santa…

Passou-se. Titia voltou pra casa, na Madalena. Começou a chover.

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Era feriado no Recife e também mês de férias estudantis. Minha irmã, Kathleen havia ido pra casa de tia Gisela, na Vila dos Comerciários. Começam os avisos de chuvas nas cabeceiras do rio Capibaribe.

O Recife havia sofrido com as cheias de 1966 e de 1970. Mas haviam construído a barragem de Tapacurá e, com a inauguração, veio a promessa de que o Recife estava livre do fantasma das cheias. Ninguém ligou para os avisos daquele 16 de julho.

17 de julho de 1975, quinta-feira

O Recife está sob cheia do rio Capibaribe. Lugares da capital, onde nunca havia enchido, estava sob enchente. A Vila dos Comerciários, que nas cheias anteriores, de 1966 e 1970, havia sofrido parcialmente, em 1975 ficou quase toda tomada pelas águas.

18 de julho de 1975, sexta-feira

Recife continua tomada pelas águas. Não se tinha notícias, em Olinda, dos parentes que estavam em áreas alagadas. O que era uma preocupação maior, pois, além de minha avó Maria, as tias Flávia e Glaura, os tios Milton e Tonho e as primas Carol e Michele, que eram bebês, ainda tinha tia Gisela e o marido, tio Orígenes, os primos Roberto, Carlos e Gisela Maria e minha irmã, Kathleen, que estavam na Vila dos Comerciários, em Casa Amarela.

19 de julho de 1975, sábado.

As águas começaram a baixar. Eu e mamãe saímos pro Recife. Fomos à casa da mãe dela, vovó Maria. A ponte da Torre havia perdido a cabeceira, na junção da Visconde de Irajá. Fomos pela Rua José Osório, Rua Visconde de Albuquerque até a rua em que vovó morava, a rua J. A. da Silveira. Estávamos a pé. Os pés atolavam na lama.

Chegamos lá e tudo estava bem. A água havia chegado ao patamar do apartamento em que moravam e estavam todos bem.

Eu e mamãe, seguimos pela ponte da Torre, pois só se passava a pé, pois a cabeceira havia sido levada pelo Capibaribe. Rua Amélia, Rosa e Silva, Estrada do Arraial e só vendo os estragos provocados pela força das águas nos Aflitos, Graças, Tamarineira. Chegamos à Vila dos Comerciários e vimos mais estragos. As casas mais próximas da Estrada do Arraial completamente estragadas. Chegamos à casa de tia Gisela pela rua Gomes Coutinho. Tia Gisela havia perdido tudo. Da sala à cozinha, passando pelos quartos. Ajudamos na limpeza da casa. Voltamos pra Olinda no fim da tarde com minha irmã.

No Jornal Nacional, extensa matéria sobre a enchente no Recife. No final, Ernesto Geisel, o ditador da vez, anuncia a liberação do FGTS para os moradores do Recife na segunda-feira, dia 21 de julho.

20 de julho de 1975, domingo

As pessoas desabrigadas continuam a voltar para suas casas, outras, continuavam nos abrigos públicos em escolas e igrejas. A limpeza de casas, de quem não as perdeu, era a tônica, assim como a verificação e constatação das perdas.

21 de julho de 1975, segunda-feira.

Lá pelas 8 da manhã, fui à cidade pra comprar os passes estudantis meus e de meus irmãos.

Naquela época, o estudante morador de Olinda tinha um ritual diferente: fazer uma petição, em nome um dos pais, ao delegado de Polícia de Olinda, no Varadouro, solicitando o Atestado de Pobreza. A essa petição eram juntadas cópias dos Registros de Nascimento de cada filho, além de cópias do RG dos pais. Entregava na Delegacia. Uma semana depois, ia pegar o Atestado de Pobreza na unidade policial e levar todos os documentos ao Departamento de Terminais Rodoviários de Pernambuco – DETERPE, que ficava no Terminal Rodoviário de Santa Rita, no centro do Recife. Cada estudante tinha direito a 70 passes por mês e cada um recebia uma capa de talão, onde era anotado o número de passes comprados na última vez.

Passei no escritório do meu pai, na Rua da Saudade, peguei o dinheiro pra comprar os passes e segui pela Conde da Boa Vista, Guararapes, Praça da República, Larga do Rosário, Estreita do Rosário, Praça 17. Na esquina havia uma farmácia Drogaluz na qual entrei pra me pesar (toda farmácia dispunha de uma balança e as pessoas entravam nas farmácias só pra se pesar). Havia uma cidadã falando com a balconista que a repartição onde ela trabalhava havia dispensado todos os funcionários porque o chefe recebeu um telefonema dizendo que "Tapacurá estourou". Não dei ouvidos e segui pra Rodoviária, comprei os passes e voltei pela rua Duque de Caxias, como sempre fazia, e ao chegar na Pracinha (a Praça da Independência tinha esse "apelido"), percebi as pessoas correndo a esmo e gritando. Um senhor pega no meu braço e diz: "Corra, meu filho, que Tapacurá estourou!".

Aí, eu corri! Corri até a cabeceira da Ponte Duarte Coelho. Minhas pernas falharam, eu estava em pânico. Fui me puxando pela balaustrada da ponte até a frente do Cinema São Luiz. Ali, já desistindo e me despedindo da vida. Eu olhava pro rio Capibaribe e via as águas subindo. Não conseguia correr. Só me restava esperar o rio subir a ponto de me levar do quem-me-quer da frente do São Luiz.

Não sei o tempo que fiquei aí sentado. Só sei que vi muita gente com uma nota de cem cruzeiros com a efígie de Floriano Peixoto oferecendo a quem tinha automóvel e ninguém aceitava. Vi quando retiraram os blocos de concreto (popularmente chamado de gelo-baiano) que bloqueavam o acesso direto a Olinda, vi mulheres grávidas desmaiarem na calçada. A cidade estava cheia de gente que saiu pra comprar itens mínimos pra ter em casa, já que tinham perdido tudo.

De repente, minhas pernas começaram a "esquentar" e eu comecei a correr pro escritório do meu pai, que já estava com o carro de portas abertas e o som do rádio anunciando que era um boato. Meu pai me tirou da histeria coletiva me dando um forte sacolejo e me fez ouvir o rádio.

Depois que me acalmei, fui pegar o ônibus de volta pra casa, em Olinda. No ônibus, encontrei mamãe, que havia perdido as sandálias e estava meio atônita e com os cabelos assanhados. Também estava correndo do Tapacurá.

Ao chegar em casa, peguei uma ficha pautada e escrevi:



























"O Êxodo Recifense"

No dia 21 de julho de 1975, aproximada-

mente às 10:00 hs (sic) do dia, ouviu-se um boato de

que "Tapacurá estourou!!!" e foi tumulto total na

cidade do Recife, no centro. Na ponte Duarte Coelho

só se via o povo correndo e gritando, mulheres gritan-

do, tendo ataques de histeria, gestantes, algumas até

com novo meses de gestação, a cidade entrou em pâni-

co total, tiraram até os blocos da Av. Conde da Boa

Vista com a Rua da Aurora para passarem os carros.

a) JCavalcantiJr

Olinda, 21 de julho de 1975 [desenho de uma gota] Sorria

(Transcrição da ficha escrita em 21.jul.1975)

Sei que além desta minha história pessoal muitas outras pessoas as têm. Só falta contar. E aí, caro leitor, se viveu esse episódio no Recife, não quer contar a sua história do momento?

E você, jovem, que não viveu o momento, quer saber mais?

Comentem nesta postagem, abaixo.