O ano era 1971.
Chegávamos pra morar em Olinda, vindos da
Vila dos Comerciários, depois de passarmos dois meses na Cidade
Marechal Castelo Branco, na Zona Sul do Recife, conjunto residencial
do Grupo LUME, que ficava por trás do Geraldão.
Era 12 de fevereiro
daquele ano. Uma sexta-feira.
Arrumamos a mudança e no dia 13, fui
pra casa de vovó Maria, que morava na Conde da Boa Vista e eu fui
pra lá pra brincar no corso, que começava no domingo, dia 14, indo
até o sábado de Zé Pereira, dia 20 de fevereiro naquele ano. (Não
sabíamos, ainda, que no próximo Carnaval o corso seria proibido
pela ditadura militar que se instaurou no Brasil em 1964).
Voltei pra Olinda no
domingo de Carnaval, dia 21.
Mamãe juntou os cinco filhos e fomos,
depois do almoço, pro Quartel-general do Frevo, que ficava na frente
do Colégio São Bento, na Sigismundo Gonçalves. Ali, víamos
desfiles de agremiações carnavalescas que não conhecíamos
direito. Era muito massa fazer o passo quando as orquestras passavam
tocando um frevo rasgado na avenida. Fizemos isso também na segunda.
Na terça-feira gorda, o
desfile era na Avenida Getúlio Vargas, pois Pitombeira saía do
Samburá e Elefante saía de Zé Pequeno. E seguiam no rumo do Sítio
Histórico. Vassourinhas também saía nessa avenida na terça-feira,
mas não me lembro de onde.
Passou Pitombeira e depois, Elefante. Ainda não conhecíamos direito as músicas das
agremiações. Quando Elefante passou, tocando seu hino, fiquei arrepiado e me apaixonei por Elefante e aprendi logo seu hino:
Ao
som dos clarins de Momo
O
povo aclama com todo ardor
O
Elefante exaltando as suas tradições
E
também seu esplendor.
Olinda,
este meu canto
Foi
inspirado em teu louvor
Entre
confete e serpentina
Venho
te oferecer
Com
alegria, o meu amor
Olinda!
Quero
cantar
A
ti
Esta
canção:
Teus
coqueirais, o teu sol,
O
teu mar
Faz
vibrar meu coração
De
amor, a sonhar
Minha
Olinda sem igual
Salve
o teu carnaval!
Fiquei todo arrepiado com
o frevo e fui procurar saber de quem era essa música e decorei a
letra, que era de Eduardo Wanderley e Clídio Nigro fez a música.
Passamos uns perrengues e
tivemos que sair do nosso apartamento, que foi alugado e assim,
alugamos um apartamento no Ed. Dalva Cardoso, também no Bairro Novo,
na Av. Getúlio Vargas.
Do outro lado da avenida,
quase de frente ao prédio em que estávamos, moravam numa casa o
casal Seu Clídio e dona Laura, com Dora, Cláudia (Cada) (que
conheciam mamãe) e Fernando (Índio).
Eu já fumava, apesar de
ter doze anos e mamãe sabia.
Então, sempre depois de jantar, eu ia passear pela avenida
Beira-mar, no rumo de Casa Caiada fumando um cigarro.
Numa noite dessas, conheci
um senhor, que também fazia esse percurso. Descobri que era seu
Clídio, o pai das amigas de mamãe e de Índio, que já era meu
amigo, pois, como eu, era adolescente também nessa época e tínhamos
um amigo comum, Kléber (que eu conhecia da Vila dos Comerciários e
tinha vindo morar em Olinda havia mais tempo que eu).
Daí pra
frente, seu Clídio me contava as histórias das músicas dele, de
como surgiu Elefante, falava dos carnavais que passaram, de
Donzelinhos, de outras agremiações carnavalescas da
cidade que àquela época já não mais existiam e as que ainda
sobreviviam… Eu escutava seu Clídio maravilhado. Desde quando eu
tinha 12 anos.
Aliás, vale uma observação, foi nessa casa que
tomei pela primeira vez uma bebida super-refrescante: vaca preta
(sorvete de creme com Coca-cola), que Dora, filha de seu Clídio me
ofereceu.
Em 1977, ano que desfilei
no Clube Carnavalesco Misto Elefante de Olinda, a Diretoria de
Elefante conseguiu a cessão do Clube Atlântico para fazer um baile
de Carnaval e seria em homenagem a seu Clídio. Eu fui escalado pra
levá-lo ao Clube para receber a homenagem.
Depois, no dia 18 de
fevereiro, sexta-feira da semana pré-carnavalesca, era o dia do
trote de Elefante. Dessa vez, fiquei como sinal de onde seu Clídio
estava. Eu ficaria em pé, ao lado dele na janela pra sinalizar ao
porta-estandarte e ao maestro, onde se encontrava Seu
Clídio, que, com sua família estava morando na rua Prudente de
Morais. Passou o estandarte, fez a reverência, a orquestra parou na
frente da casa e tocou Olinda Nº 2 e Banho de Conde e foi tão
emocionante, pois foi uma surpresa pra ele que pensamos fazer eu e
Carlos Eugênio, que era um dos diretores do Clube. Sei que nessa
homenagem chorávamos eu, seu Clídio, mamãe e todo mundo que estava
na casa nessa hora. Foi um grande momento.
Carlos Eugênio me chamava
de "Ronquinho" porque eu roncava quando gargalhava. (Hoje
ainda ronco ao gargalhar, mas não é sempre). Ele era noivo da irmã
de um amigo do Colégio. E quando eu soube que ele era da Diretoria
do Clube, expressei meu desejo de desfilar.
Tinha uma cota a cumprir
e ele ajudou muito na minha cota porque eu não tinha condições de
suprir toda ela. Vendas de rifas, camisas, macacões e até mesmo
bebidas das festas, mas eu era muito tímido e não conseguia vender nada. Ele dizia: “Vou botar na cota de
'‘Ronquinho’'”. Assim, pude desfilar sem problemas.
Também é importante
dizer que nos anos 1970, o Bairro Novo sediava a já tradicional
troça Virgens do Bairro Novo e também o Bloco dos 100 grilos e o
Bloco Chapéu de Bode que era um bloco só de homens, assim como as
Virgens.