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19 fevereiro 2008

Cântico Negro, de José Régio

Em 1968 passou, na extinta TV Tupi, a novela Antônio Maria. Tina no elenco Sérgio Cardoso, Aracy Balabanian, Tony Ramos, Dênis Carvalho, entre outros. Eu era criança (tinha nove anos), mas jamais esqueci da interpretação de Sérgio Cardoso como o português Antônio Maria declamando esse belíssimo poema de José Régio, poeta português de Vila do Conde, que por acaso vem a ser a cidade-irmã de Olinda, minha cidade.
Um outro lance sobre essa novela é que eu estudava no Grupo Escolar José Vilela, na Estrada do Encanamento, no Recife e tinha uma colega que era filha de um diretor do Clube Português do Recife e ela me chamava pra ir sempre ao clube, seu nome é Vitória. Numa dessas idas ao Clube Português, conheci e "fiquei amigo" da atriz e cantora portuguesa Gilda Valença, que também trabalhava na novela. Todas as vezes que ela vinha ao Recife, eu ia vê-la no CPR e ganhava um autógrafo da atriz, em flâmulas do Clube, em cartões, na camisa...
Bem, vamos ao poema:

Cântico negro

José Régio


"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!


José Régio
, pseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde em 1901. Licenciado em Letras em Coimbra, ensinou durante mais de 30 anos no Liceu de Portalegre. Foi um dos fundadores da revista "Presença", e o seu principal animador. Romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico, foi, no entanto, como poeta. que primeiramente se impôs e a mais larga audiência depois atingiu. Com o livro de estréia — "Poemas de Deus e do Diabo" (1925) — apresentou quase todo o elenco dos temas que viria a desenvolver nas obras posteriores: os conflitos entre Deus e o Homem, o espírito e a carne, o indivíduo e a sociedade, a consciência da frustração de todo o amor humano, o orgulhoso recurso à solidão, a problemática da sinceridade e do logro perante os outros e perante a si mesmos.


13 fevereiro 2008

Gays protestam contra igreja católica na Itália

Acho muito bo quando essas coisas acontecem. Afinal a igreja devia era se reservar às áreas de SUA compétência. Igreja só estado no Vaticano e priu! Não tem essa de querer se arvorar em Estado nas sociedades que escolheram um estado LAICO, ou seja sem religião oficial, onde as questões de fé são uma coisa e as questões da sociedade são outras. Afinal, inguém pode ser obrigado a crer em quem quer que seja.
Senhores da ICAR, sejam mais cristãos e tolerem a DIVERSIDADE.

Gays protestam contra igreja católica na Itália
Não se tem notícia na história da humanidade de uma barbárie maior do que quando a igreja católica exercia a função de estado. Perseguiu, humilhou, prendeu e principalmente promoveu a morte de milhares de pessoas.
Em pleno século 21, o Vaticano insiste em exercer o papel de estado no mundo todo sem ser. Proíbe o uso da camisinha, o aborto, o divórcio e, no caso dos gays, promove o preconceito, condenando o amor entre iguais.
Só que agora, a sociedade não aceita e tem protestado e reagido sempre contra as imposições da igreja católica. Foi o que aconteceu no último sábado, em Roma, quando duas mil pessoas protestaram contra a tentativa do Vaticano de interferir nas decisões do parlamento sobre as leis do aborto, da inseminação artifical e do casamento entre homossexuais.
O protesto reuniu integrantes de movimentos sociais, grupos de esquerda, homossexuais e feministas. Eles marcharam pelas principais avenidas da área central de Roma com cartazes onde se lia frases de protesto contra a postura da igreja católica.
RECIFE - Uma tentativa frustada da igreja católica de exercer a função de estado aconteceu no final de janeiro quando o arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, tentou impedir a distribuição durante o Carnaval da pílula do dia seguinte.
A reação das autoridades condenando a atitude do religioso foi imediata. O Ministro da Saúde criticou a postura dele. A Diocese entrou na justiça, mas também perdeu, uma vez que o juiz responsável pela decisão entendeu que a Igreja não é uma autoridade científica para julgar se a distribuição da pílula é certa ou errada. Um total de 32 pílulas foram distribuídas durante o período carnavalesco.